segunda-feira, 20 de outubro de 2008


Horácio Costa (São Paulo-SP, 14/12/54). Formado em Arquitetura e Urbanismo (FAUUSP, 1978); Mestre em Letras (New York University, 1983), PhD em Yale (1994). Professor na UNAM (México), 1987-2001. Desde então, é professor da FFLCH-USP.
Traduziu e publicou Octavio Paz (Piedra de Sol/Pedra de Sol, Rio, 88), Elizabeth Bishop (Antologia Poética, São Paulo, 90), César Vallejo (Poemas Humanos; México, Rio e Lisboa, 92), Xavier Villaurrutia (Nocturnos; Lisboa, 94); por publicarem-se Xavier Villaurrutia (Poesia Completa, São Paulo) e Blanca Varela (Canto Vilão, São Paulo).
Organizou dois eventos internacionais de poesia: "A palavra poética na América Latina, avaliação de uma geração" (São Paulo, Memorial da América Latina, 90; publicada em livro) e "O veículo da poesia" (São Paulo, Biblioteca Mário de Andrade, 98).
Outros livros: José Saramago: o período formativo (Lisboa, 97 e México, 03) e Mar abierto: ensayos sobre literatura brasileña, portuguesa e hispanoamericana (México, 01). Tem poemas ou livros traduzidos ao espanhol, inglês, francês, romeno, macedônio e búlgaro.
Foi presidente da ABEH — Associação Brasileira de Estudos da Homocultura.

domingo, 19 de outubro de 2008

Mafalda, a menina de 44 anos que ainda é símbolo mundial de contestação

Marisa Carvalhoda redação
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A Mafalda, de Quino•

Há 44 anos, uma menina que detesta sopa e enche os adultos com perguntas embaraçosas cativa leitores e ilustra materiais da esquerda pelo mundo. Símbolo da rebeldia latino-americana, Mafalda segue atual com suas bandeiras feministas, sua preocupação com o destino da humanidade e sua ironia infantil, porém nada inofensiva.

Mafalda é uma menina argentina de cerca de sete anos, filha de pais de classe média, um empregado de uma companhia de seguros e uma dona-de-casa. Está sempre escutando rádio ou vendo TV em busca de notícias favoráveis à paz no mundo, tomado pela guerra do Vietnã, e ao progresso de seu país, vitimado pela inflação e pela migração de seus jovens por falta de oportunidade.


Politizada e indignada com a forma como os adultos prejudicam o mundo, Mafalda tornou-se símbolo de contestação na América Latina e na Europa.O criador de Mafalda é o argentino Joaquín Lavado Tejón, o Quino, que começou a publicar desenhos em 1954 na revista Esto Es.


Mafalda surgiu quando Quino precisou fazer um trabalho publicitário para uma indústria de eletrodomésticos chamada Mansfield. Ele deveria inventar uma história em que aparecessem produtos da marca, sem dizer seu nome, mas com insinuações nos nomes dos personagens, que deveriam começar com M. A denominação Mafalda veio de um filme argentino chamado Dar La cara, que tinha uma personagem com esse nome.


Os desenhos ficaram arquivados porque os jornais logo perceberam que se tratava de propaganda de uma marca. Somente em 1964 um amigo jornalista de Quino pediu os desenhos para a revista Primera Plana. Seis meses depois, a história fez tanto sucesso que precisou passar de semanal a diária.Mafalda reflete a ironia e o ceticismo de seu criador. Perguntado depois do fim da publicação das tiras como via o mundo atual, Quino foi duro: “Mal, muito mal. Alegro-me de não ser jovem”. Talvez por isso Mafalda e seus amigos sejam tão pouco crianças no sentido ingênuo de ver a vida.
Exemplo disso é uma frase cortante da personagem: “O que você gostaria de ser se vivesse?”.


Os especialistas no mundo de Mafalda dizem que o personagem Felipe é a encarnação de Quino, o que o próprio já reconheceu. Felipe é tímido e faz o possível para não incomodar ninguém, assim como seu autor, um menino de Mendoza, interior da Argentina, filho de pais espanhóis.


Já Manolito representa a ganância capitalista. Filho de um comerciante espanhol que migrou para a Argentina, o menino só pensa em dinheiro e em como fazer crescer o negócio do pai. Pouco vive a infância, uma crítica de Quino ao conservadorismo e à falta de imaginação provocada pela busca incessante do lucro.


A maturidade das crianças de Quino contrasta com a mediocridade dos pais de Mafalda. Enquanto a mãe abandonou uma carreira para se dedicar ao lar, o pai é um escravo da contabilidade de uma grande empresa, que se aliena da realidade na obsessão pelas plantas.O socialismo está presente em várias tiras.


Num mundo que ainda convivia com o chamado socialismo real da URSS, de Cuba e do Leste Europeu, é natural que o tema ocupasse e confundisse a cabecinha de Mafalda. Quando Felipe explica a ela que os peões vêm antes do rei e da rainha no xadrez, Mafalda custa a acreditar e acusa o pai do amigo, que o ensinou as regras, de socialista.O clima subversivo da época contaminou a Argentina.

A impressão de Mafalda é a de que os argentinos só gritavam para dizer “greve!”. Em várias situações a menina associa o socialismo ao totalitarismo e à falsa igualdade, reflexo do stalinismo que desvirtuou os princípios da Revolução Russa.Mafalda também é um símbolo do feminismo infantil, mostrando que as meninas desde cedo podem aprender a se valorizar e buscar sua independência.

Essa batalha pela autonomia feminina se evidencia nas discussões com Susanita, que só pensa em ser mãe de um médico, casar-se e ser dona-de-casa. Num dos diálogos, Mafalda diz que não há problema em ter filhos, “mas os tempos mudam. Além de ser mãe, hoje a mulher deve contribuir com o progresso, fazer coisas importantes”. Susanita entende que uma das coisas que uma senhora importante pode fazer é jogar bridge enquanto espera o marido chegar.


Durante os nove anos em que suas tiras foram publicadas, o mundo viveu intensos conflitos que certamente influenciaram a criação de Quino. Em suas tiras, Mafalda se interessa mais pela guerra no Vietnã e pela ameaça atômica do que pelo mundo de menina de Susanita.
No dia 15 de março de 1962, quando Malfada nasceu, o governo da Guatemala anunciava que 12 guerrilheiros haviam morrido em batalhas contra o exército. Quando foi publicada a primeira tira de Mafalda, em 29 de setembro de 1964, o Equador vivia protestos e renúncias de ministros pela alta dos impostos.

No mundo, os EUA revelavam que a China poderia exibir uma prova nuclear a qualquer momento.Quando Manolito aparece pela primeira vez numa tira, em 29 de março de 1965, a embaixada dos EUA em Saigon, no Vietnã do Sul, sofreu um atentado, ao qual o governo americano reagiu bombardeando uma ilha sul-vietnamita.

Quando Malfada se despede de seus leitores, em 25 de junho de 1973, o Senado dos EUA enfrentava o presidente Richard Nixon pelo bombardeio no Camboja.

Assista ao filme O mundo de Mafalda

terça-feira, 14 de outubro de 2008

ALÔ, LIBERDADE


Chico Buarque
Composição: Enriquez/Bardotti/Chico Buarque

Alô, liberdadeDesculpa eu vir
Assim sem já era tarde
E os galos tão
Cansados de cantar
Bom dia, alegria
A minha companhia
Vai cantar
Sutil melodia
Pra te acordar
Quem vai querer tocar trombeta
Pem pererém pererémPempem
Quem vai querer tocar matraca
Tracatracatraca
Tracatraca

Quem vai de flauta e clarineta
Fi fiririFiriri fifi
Quem é que vai de prato e facaa
Taca cheque taca
Chequetaca checá

Quem vai querer sair da banda
Pan pararan
Pararan panpan
Hoje a banda sairá
Alô, liberdadelevante, lava o rosto
Fica em péComo é, liberdade ...

Vou ter que requentar
O teu caféBom dia, alegria
A minha companhiaVai cantar
Em doce harmonia
Pra te alegrar
Quem vem com a boca no trombone
Pom pororom
pororom pompom

Quem vem com a bossa no pandeiro
Chá caracháCarachá chachá
E quem toca só toca telefone
Trim tiririmTiririm trimtrim

E quem só canta no chuveiro
Trá tralaláTralalá lalá
Quem vai querer sair na banda
Pan panpan
Hoje a banda sairá
Laiaralaialaialaiá
Hoje a banda sairá
Olá, liberdade!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

MARCELO ARIEL

Queimar a Nuvem

Cara Ana C.

Inútil o tempo gasto em reduzir o vivido (O essencial do, inclusive)a uma ética para fantasmas que se renovam através da estratificação de falsos êxtases projetados no fracasso de um pacto que de modo algum exclui o fracasso da lucidez, se qualquer instante se revelava uma gestão onírica de tensões e silêncios insuportáveis sem nenhuma isenção bíblica e que se materializavam sempre como afastamento e opacidade ou suspenção e adiamentodo que poderia SIM ter sido a raiz quadrada do maravilhoso apesar do EU que não esteve em mundo algum ( VER o trunfo de Celan e Eliot Smith)...Que foi um mínimo sair de si como o pesadelo da cobra mordendo o próprio rabo para tornar igual o dentro e o fora e fazer do invisível mais do sua outra parte: o vôo-futuro fogo para a nuvem de enganos de quem fica te deu ao menos a volúpia ou o torpor da invisibilidade e do inexistido.


Marcelo Ariel é escritor, publicou no ano passado o livro “ME ENTERREM coM MinhA Ar 15 (Scherzo-Rajada)” pela Dulcinéia Catadora e é proprietário do sebo itinerante “O Invisível”, em Cubatão, onde vive.
Mantém os blogues Teatrofantasma, http://www.avidaeoteatrofantasma.blogspot.com/ e http://www.ouopensamentocontinuo.blogspot.com/, além de uma coluna na revista eletrônica Critério.
Para a aquisição de um exemplar de seu livro, basta enviar o pedido por e-mail para dulcineiacatadora@gmail.com. Também à venda na livraria Realejo (Gonzaga-Santos) na mercearia São Pedro e no Sebo do Bactéria (em São Paulo).

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Do fundo do meu coração

Adriana Calcanhotto
Composição: Roberto Carlos/ Erasmo Carlos


Eu, cada vez que vi você chegar
Me fazer sorrir e me deixar
Decidido eu disse: nunca mais
Mas novamente estúpido provei

Desse doce amargo, quando eu sei
Cada volta sua o que me faz
Vi todo o meu orgulho em sua mão
Deslizar, se espatifar no chão
Eu vi o meu amor tratado assim

Mas basta agora o que você me fez
Acabe com essa droga de uma vez
Não volte nunca mais pra mim

Eu, toda vez que vi você voltar
Eu pensei que fosse pra ficar
E mais uma vez falei que sim
Mas já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração

Não volte nunca mais pra mim
Se você me perguntar se ainda é seu
Todo meu amor, eu sei que eu
Certamente vou dizer que sim
Mas já depois de tanta solidão
Do fundo do meu coração
Não volte nunca mais pra mim