quarta-feira, 29 de julho de 2009

différrance

Nunca eu tivera querido
dizer palavra tão louca:
bateu-me o vento na boca,
e depois no teu ouvido.
Levou somente a palavra,
deixou ficar o sentido.

Cecilia Meireles

é o cúmulo total do desencontro absoluto ou o absurdo do desencontro total


mas tudo que lhe acontecera ainda era preferível a sentir aquilo, aquilo: como diria Clarice Lispector.

Ontem eu me questionava, por que é que não tenho uma grande força, àquela que impulsiona, que não perde o foco e que é maior e melhor, está acima de tudo e de todos? Ah, essa força para Nassar, Guimarães, Drummond ou mesmo para muito amigos se chama escrita, se chama concentração num projeto, naquilo que te move(como diria Mauricio).
Primeiro é preciso algumas lágrimas de indignação, alguns arranca-rabos com o deus do acaso, alguns questionamentos absurdos e imateriais - depois apenas o reflexo, àquela autoestima arrancada sabe-se lá de onde, de todos. Aí é que se faz uma bom caldo, depois de tomado corpo vem a força. Podia dizer que a minha é literária, hoje poderia dizer isso. Talvez seja um progresso ou só parte do processo, nada demais, nada além. Acho que essencialmente há o desejo de dizer, há intenção e nesse caminho há o infinito.

Muita chuva, muitas nuvens encobrindo o céu e muito ruído, por que diabos as informações num mundo tão cotidiano delas não chegam? elas simplesmente inexistem quando se trata de assuntos desse caráter. Há caráter? há ética? há responsabilidade?
Ora questionamentos tolos e moralisticos não cabem nesse contexto. Não se sabe o que cabe, para dizer a mais real das afirmações, não se sabe.
E a consideração, o cuidado com o outro ou o mínimo de compromisso com a diferença? Inexiste, ausente, incabível, inexplicável, mudez, nulidade,silêncio, um absurdo total e completo.

Aquele momento do instante que marca o salto. Me diz, me diz, me responde por favor, pra onde vai o meu amor quando tudo acaba.(Chico) O momento nascido antes do acontecimento e o instante do acontecimento até o seguinte momento do não-acontecimento mais. QUAL desses instantes, em qual momento do ínterim a transformação ocorre? QUANDO focamos exatamente no outro a sensação de desencontro total?
Não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas(Futura). E vou eu lá de novo marcar com um caneta amarela o momento do salto, queremos medir humanos, queremos prever reações e ocorrencias, queremos cercear e cercar, limitar, fronteirizar num tempo no qual tudo isso foi pregressivamente arrancado de nós, quem é que contém a lógica. Para que então verificar as ocorrências a todo momento se elas serão falseadas no próximo instante que ninguém saberá dizer qual foi? Para termos o trabalho de analisar qual foi o instante, senão o mundo acaba. Não haverá mais porquê, não haverá mais graça.

Algumas graças eu não queria sentir de novo, pelo menos 1/10 dos porquês poderia ser contestado, evitaria os ruídos, a displicência, o descaso, a desconsideração. Essa liberdade total e garantida acabou por confundir demais os valores, as atitudes, os procederes e esse meu discurso que parece mais um texto moralistico que reflexivo.

Irrelevante, tudo isso é irrelevante!
Não adianta buscar o porquê se você vive de instantes, busque apenas a vivência, não a experiência.

Abs

segunda-feira, 27 de julho de 2009

às vezes, muito às vezes cansa!

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário
(Carlos Drummond de Andrade In: Hoje não escrevo)
Não é do escrever poético, de crônicas e contos que me remeto a Drummond. Hoje certamente, escrevo, mas canso de escrever e não escrevo, ou melhor teclo outras palavras, as que não são da ciência e do pensamento investigativo. O faço agora como alivio para meu entusiasmo, ou para meu cansaço que não é carnal, tão pouco intelectual. Não, obviamente, meu cansaço tem nome, tem sobrenome e tem referências sublimes.
O nome dele fica dito quando troco ele por ela, quando arremesso longe o olhar da janela de ontem, a mesma chuvosa de hoje e como essas gotas fazem falta...ah como fazem.
Não sei se te chamo de saudade ou lembraça, se te guardo na memória ou cultivo uma esperança. Sei que nada adianta tanto silêncio empedernido entre paredes, nas quatro paredes (seria meu se fosse resgatado). Temos Sarte pra encenar Entre quatro paredes ou o contrário. Acho que é o contrário de títulos. Não sei, estou cansada(suspiro de dúvida).
E como escreve bem, como escreve bem, como foi bem traduzido. Quem? Sartre?
Não esse não li ainda, não da forma como seria digno fazê-lo.
Dostoiévski.
Não sei se fico com ele, se fico com ela. Olho em volta, olho para o celular e realmente uma situação é certa, estou sem ele.
Mas tenho outros...muitos no devir.
A minha estante está cheia deles, então por que não sentar e escrever?
Boa leitura
Bom fim de noite!

domingo, 19 de julho de 2009

Versos Íntimos

Augusto dos Anjos

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!


Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.


Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!