“O povo acordou”, “verás que um
filho tem não foge a luta”, “se a tarifa não baixar a cidade vai parar”,
“Brasil, “vamo acordar” o professor vale mais que o Neymar”, “Afaste de mim
esse CALE-SE”. Essas e outras faixas abriram os gigantescos desfiles de uma
segunda feira, aos 17 de junho de 2013, sem frio ou chuva em São Paulo, em BH,
no RJ, em Brasília, em Salvador, em POA. O que se viu e ouviu pelas ruas das
capitais foi uma miscelânea de discursos e revoltas. Os famosos 0,20 centavos
se transformaram numa luta justa da voz do povo por causas diversas. Não há um
discurso único, mas há um movimento MPL lutando, encabeçando uma causa bem
pontual e afirmativa, abaixar a tarifa de ônibus de 3,20 para 3,00.
Conseguiram? Conseguirão? Sim. Aos 19 de junho na mesma semana foram revogados
os famigerados 0,20 centavos. Vitória! As manifestações continuam, imprensa,
especialistas que apoiam o movimento pedem uma pauta definida, uma liderança,
um discurso pontual concreto, não abrangente ou tautológico.
Para que liderança, eu pergunto?
Precisamos definir o modelo de país que está se formando, precisamos formatar e
delimitar que tipo de manifestações são essas, que natureza têm? O ser humano
com sua necessidade de nomear, dar a conhecer, formular conceitos, definir tudo
e enquadrar numa gaveta para poder ser analisado à parte, para poder ser
investigado com mais cautela. Ótimas ações de pesquisa científica, considerando
o ser humano como racional e metodológico. Mas ele é plural, é multifacetado,
complexo e tem a necessidade, na verdade, de se deixar humano, ou seja, livre
para exercer suas próprias leis e cautelas. Não é anarquismo que se propõe, mas
é voz maior, voz de contingente, voz de rua que admite rua para acesso, para
decisões e para outra categoria de ser, de se expressar e manifestar.
Todo dia eles fazem tudo sempre
igual. Um dia a coisa vira e o processo muda. Revolucionária? Antidemocrática?
Liberal? Anárquica? Doidivanas? Tudo o que querem, de novo enquadramentos? Apenas
opinião, é um caminho.
Domenico de Masi ao dizer que o
Brasil tem todas as ferramentas para propor um país com modelo econômico e
social inovador, que defende o ócio criativo e o trabalho desformatado dos
modelos já tão conhecidos , está consciente e bem lúcido ao dizer que aqui
poderia ser esse “epicentro da mudança” ou como queira. Algo que propõe o
diferente, mas ninguém entende ou se assusta, ou se precipita simplesmente porque
ser heterogênio de massa, junto com a massa e na massa é muito mais complexo
para analisar.
Bora às ruas protestar. A favor
ou contra o quê? Sejamos mais objetivos? A subjetividade sempre ficou de fora
do mundo dos negócios, da ciência empírica e das leis. Ledo engano, nada está
distante ou isento de natureza sutis de análise, nem mesmo o que se diz que
pode ser chamado de realidade “aquilo que faz parte de um conhecimento comum, legitimado
e significativo a uma sociedade, que foi experenciado e aceito”. Comum é ter
discursos diversos, porém que convirjam para algum ponto em comum, comum é cada
um ter a liberdade de se expressar sexualmente da forma que queria desde que
respeitem as leis do pudor e da liberdade do outro. Ora se o outro quer pensar
que o que tem é doença e deseja se curar, ele que vá procurar um médico que o
cure da tal doença e para isso não são necessárias leis absurdas que
travestidas de libertárias, no senso comum são mesmo repressoras. Qual senso
comum? Aquele que ninguém pesquisa, apenas repassa e opina ou aquele que se
coloca a pensar a sociedade que está cheia de pessoas comuns, e por isso,
complexas demais para terem lideranças bem definidas e objetivamente
esclarecidas para se expressarem com a autoridade de saber o rumo que se deve
seguir uma manifestação.
Continuar a manifestação sem
pauta é perda de tempo, façam isso ou aquilo que a história diz que funciona e
quem disse que queremos fazer a mesma história? quiça seja outra ou como
Domenico de Masi, mais ou menos disse “ os brasileiros têm essa capacidade de
propor um mundo novo”. Estamos aí construindo-o sem rumo determinado ou
objetivo concreto bem desenhado, vamos no caminho fazendo nosso caminhar,
enquanto narramos a história vamos narrando-a para nós mesmos. Improviso? Não
apenas necessidade de quebrar paradigmas estabelecidos com medo de caminhar
para um caminho que ainda nenhum povo fez, nenhuma nação pensando ou não propôs.
Estamos apenas nos reunindo como os gregos para aprender a caminharmos juntos. Essa
a nossa pauta.
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