Ah, essas questões éticas...
Por especulação, não do capital, mas do “verbum interius” existe uma blindagem no ar que de tão intransitiva para algumas categorias, nos faz pensar, sentir, ou apenas aupiciar que não é possível uma ordenação libertária. Que talvez, só talvez não seja corajoso de nosso parte mudar a lógica sensata, àquela que faz sentido.
A questão é se perguntar : o que raios faz sentido para cada ser? Ou nem isso, menos ainda, tem alguma coisa a ser ilogicizada aqui? Não nesse mundo, ele apenas está em crise financeira, as guerras e genocídios continuam acontecendo, pessoas são presas, greves são tentativas de reclamação, perdeu o foco? Virou explicitação em praça pública, donde só a mídia se permite leitura. MENTIRA.
Alguém por aqui ou por aí perdeu o fio. E o fio que ainda dá pra se ver é aquele que segue o curso natural da vida. Ah? Que curso, àquele de Godot “Quando nada acontece, algo segue seu curso”?
No meu mundo pode-se questionar o vazio do quadrante da bienal, mas não pode questionar o Jornal quando acusa os “intervencionistas” de “depredadores”. Pode além, pode refletir e achar pulsante cada atitude, de todos os lados, dessa pluralidade o risco ganha efeito e a “questionaidade” se permite, ao menos, menos silêncio, menos atividade inerte e passiva.
Há que tomar cuidado com o que queremos pacificar. O discurso da paz cabe direitinho dentro da arte, cabe na sociedade disciplinadora quando aterrorizada com a vida privada lavada em domínio que deveria ser de discussão pública. A multidão emendou a ponta das cordas e agora a fronteira é líquida, portanto, o seu lado também é do vizinho e o que é de dentro do meu problema passa a virar fofoca de esquina em rede nacional.
O problema do pertencimento não seria prioridade se aquilo que agencio pertencesse ao que configuro como pertencido a mim, como se eu pudesse pegar uma obra desde seu contexto histórico e saber empiricamente criticar, contudo o que se vê é um emaranhado de avassaladoras e devastadoras conclusões sobre o que se está, daqui pra frente eu arrisco, pois a abertura do mundo me permite tomar todos os lugares, me apossar de todos os discursos e conhecer o tudo de toda obra sem discernimento temporal entre Tolken e Dostoievski.
A lógica é consumir, como sempre fora, mas agora com a diluição dos financiamentos, o que pertence a meu mundo diz que sou e sou aquilo que vigio de longe, com olhar de cobiça para estar lá? Não para estar cá, comigo, para que eu possa possuir, ter, obter, tocar, segurar...Consumir.
Segundo Lazzarato[1] , consumir não se limita a comprar e destruir um produto ou serviço, mas antes se refere ao pertencimento, à adesão a um mundo. E de que mundo se trata? Diz-nos o autor
"Basta ligar a televisão ou o rádio, passear numa cidade, comprar uma revista ou um jornal para saber que esse mundo é constituído por agenciamentos de enunciação, por regimes de signos cuja expressão se chama publicidade e cujo expresso constitui uma solicitação, uma ordem, que são, em si mesmos, uma avaliação, um julgamento, uma crença a respeito do mundo, de si mesmo e dos outros. O expresso não é uma avaliação psicológica, mas uma incitação, uma solicitação a esposar uma forma de vida
. Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, afirmando que o modo pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das representações intelectuais de uma época
"A dimensão material do acontecimento, sua efetuação, se faz quando as maneiras de viver, de comer, de ter um corpo, de se vestir, de habitar etc., se encarnam em corpos: vive-se materialmente entre mercadorias e serviços que compramos, nas casas, entre os móveis, com os objetos e os serviços que captamos, como 'possíveis' no fluxo de informações e de comunicação no qual estamos imersos
[1] LAZZARATO, M. Créer des mondes. Capitalisme contemporain et guerres esthétiques. In: Multitudes, 15, Art Contemporain. La recherche du dehor. Paris: Hiver, 2004. Disponível em: http://multitudes.samizdat.net/article.php3?id_article=1285.
Nenhum comentário:
Postar um comentário