quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Ah! esses poetas

Macambúzios, melancólicos, inseguros, solitários, poetas, dramáticos, trágicos, poetas, taciturnos,introvertidos, calados, reclusos, poetas, sofredores, esperançosos, sensíveis, poetas, indignados,líricos,épicos, apaixonados poetas.

Um tipo que passa desapercebido justamente por conter todas essas características. Sujeito que clama:
Ai! de mim com essa dor de carregar o mundo que não sente.
Ai! de mim carregar do mundo o sentimento que dói.
Ai! de mim que sinto pelo mundo aquilo que nele dói e em mim corrói.

São astutos e inteligentes. Alguns sorriem pouco e refletem demais. Silenciosos ou zombateiros estão por toda parte, os encontra-se melhor nos textos, companheiros incansáveis de horas, noites, dias e vida que não passa e quando passa é extremamente sentinda em diversas facetas, por diferentes maneiras.
De repente você está fazendo feijão e chega a vida a lhe dizer que lá de fora houve ausência, lá de fora se ouve violência e aqui dentro ninguém ainda se deu conta que seria no texto que tais ocorrências se tornariam vida.

Eles não sabem quem são, mas nascem com algumas necessidades sensoriais das quais todos somos dotados, porém com a distinção do contato com a palavra.
A falação desenfreada para ele é apenas observada.
Quando chora se demora
E se deita para descansar não vai ficar parado
Vai sonhar.
E se esquece de registrar, fica bravo e memorizante, deseja a todo custo resgatar aquele devaneio. Quer por no texto, quer trazer do texto o seu eu perdido no devaneio, quer se encontrar com o texto para despedir-se de qualquer absurdo dolorido para o mundo dos homens.

Ah! os poetas. Tão distantes de nós e tão colados em nós. Se há algo de piegas em ser poeta é porque nunca experimentaste, meu caro, uma gota de lágrima no papel.
Nunca vivenciaste bradar em silêncio o que muitos não ouvem de si mesmos.
Gritar para os íntimos sua fragilidade tão recatada.

Para bom poeta uma boa poesia amplia:

"Já disse que não acredito na discussão dos meus problemas, estou convencido também de que é muito perigoso quebrar a intimidade, a larva só me parece sábia enquanto se guarda no seu núcleo, e não descubro de onde tira a sua força quando rompe a resistência do casulo; contorce-se com certeza, passa por metamorfoses, e tanto esforço só para expor ao mundo sua fragilidade"

(André em Lavoura Arcaica - Raduan Nassar, 1975)

Au revoir, poètes

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