quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Não se ensina: se aprende

Ensinamento
(Adélia Prado)

Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


Certo dia um amigo me perguntou se acaso temos o direito de interferirmos no processo de aprendizagem, de amadurecimento do Outro?

Bem, eu lhe respondi que sim, pois já há muito, também tivera eu a mesma dúvida diante da vida, porém com que autoridade eu respondi que sim e justificando ainda que se a pessoa tiver consciência de que sua interferência não irá causar danos ao interferido, então o interferidor não estará cumprindo mais que seu dever civil? Considerando que, objetiva com esse ato a manutenção e/ou boa formação da dignidade, o bom senso, o bem-estar do próximo. Só faltou completar com " Esse seu ato poderá contribuir para a preservação da moral e dos bons costumes da pessoa em processo de civilização"

Ora, o que se tem a dizer a respeito dessa minha mera opinião? O que conheço eu da vida para poder decidir o que fazer dela na relação com o outro? Bem, perguntas complexas -fáceis, no entanto, de serem contestadas(dependendo do ângulo ou da boca que fala) Posso eu ajudar o outro, que por ser "inexperiente", aprende com meus erros e acertos a refletir sobre suas próprias ações. Esse seria então o jogo dialógico dos seres humanos, para Bakhtin

Entrementes, para Norbert Elias que escreveu O Processo Civilizacional, Lisboa, D.Quixote, 1989-1990 (2 vols). A preocupação com o processo de civilização do ocidente europeu, era demonstrar a evolução das relações do homem ocidental com o seu próprio corpo, com as suas necessidades e instintos fisiológicos e emocionais e o modo como esta evolução se refletiu nas relações do indivíduo com os outros e foi condicionada pela evolução histórica da sociedade.

Um exemplo seria a capacidade dos indivíduos de alcançaram o auto-controle. Capacidade que temos, alguns, de segurar o xixi até encontrar um banheiro público, que sintomaticamente escasseiam nas nossas cidades, evitando deste modo fazer das árvores, que deveriam embelezar e purificar o oxigénio das cidades, mictórios públicos.

Desse modo, salvo conducto das relações que aqui tento estabelecer, entorno-me o direito público de assim como emitir opiniões são de responsabilidades individuais e peremptóricas, discorrer metalinguísticamente sobre as mesmas, me emparedando à sua recepção.

Pergunto: Necessito eu de um escudo, via virtual, para me defender das possíveis interferências, no caso, intelectuais ou nem tanto que causarei aqui nesse meu laboratório sapiens-demens das letras?

Shakespeare disse que "estar preparado é tudo", contudo nunca estamos de todo preparado para nada, quiça para o tudo que temos de enfrentar.Estar preparado para um exame, para uma entrevista de trabalho, para uma apresentação musical, teatral, palestra, seminário, estar preparado para uma viagem, para ir a um restaurante ou coordenar uma equipe esportiva, preparado para fazer compras ou assistir a um filme, cuja sinopse já pesquisou,limpar uma casa ou até ter um filho...há várias maneiras de se preparar para atuar na sociedade, contudo estar preparado para o OUTRO, bem isso é muito mais difícil, considerando que em tudo ele estará presente e como você irá agir nessas situações, nessas relações descritas em que não estará sozinho, mas sim na presença irremediável de todos os outros com sonhos, descobertas, questionamentos, formações, opiniões, vivências, experiências, crenças, medos, desejos, dificuldades, personalidades, caráter,enfim tudo diferente. Isso é estar preparado para a vida. Na verdade, penso que Shakespeare quis dizer com sua frase a seguinte recomendação: Seja paciente, tolerante e respeite tudo que vc tem que enfrentar e assim estará preparado para os combates, lutas e persistências que se trava no processo de vivência, pois nunca estará sozinho, há sempre a companhia do Outro, civilizado ou não ele estará lá e você terá de encará-lo.



Por fim, retomo àquela pergunta inicial, temos o direito de interferir no outro? Não tenho resposta. Tenho outra pergunta.
Por que não fazê-lo se isso promove crescimento em ambos?


Termino com A. Caeiro

Sim: há diferença.

Mas não é a diferença que encontras;

Porque o ter consciência não me obriga a ter teorias sobre as cousas:

Só me obriga a ser consciente.

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